"Porque eu sou brasileiro.
Eu sou do litoral
Eu sou do mundo inteiro.
Eu sou do carnaval."
Ó mundo cruel, que anseia tanto por ser feliz , desculpe -me.
Pede perdão este pobre ser que mais uma vez se encontra defronte a uma pérola de profundidade tão distante de mim quanto o polegar do indicador.
Perdão. Sincera e humildemente perdão.
Eu sou brasileiro? Sim, pelo menos é oque diz o meu RG (Registo Geral). Eu sou do litoral? Bem, levando se em conta a extensão leste-oeste, deste nosso país-continente, o 5.o maior em dimensão ( ainda bem que o PIB não influi nas grandezas físicas senão já estariamos bem atrás), pode-se considerar que eu sou do litoral, pois estou a menos de 400 km do Oceano Atlântico, pegando a rodovia Washington Luis, em seguida a bandeirantes até cair na Imigrantes e parar para tomar uma agua de coco na Barraca da CIdinha na Avenida Beira mar do Guarujá.
Eu sou do mundo inteiro? Vejamos. VIvo na República Federativa do Brasil, cujo próprio nome diz, é uma federação de Estados submetidos à União, à qual é representada pelo Governo federal, que é eleito democraticamente por voto universal. Portanto, por ter nascido dentro do território reconhecido como Brasil, sou brasileiro, oque enfatiza o primeiro verso supra citado. A república federativa do Brasil e, por consequência, seus habitantes, estão inseridos no sistema Capitalista de produção, o qual, segundo vários estudiosos, entre eles principalmente Karl Marx e Wando, baseia- se na exploração do homem pelo homem para obter assim o lucro, ou a Mais-valia. O processo de desenvolvimento do capitalismo levou ao aumento da concorrência entre as empresas, e tal concorrência força as mesmas a manter uma ininterrupta evolução em seus produtos e serviços. Os meios de comunicação foram altamente afetados por tal desenvolvimento tecnológico, oqual só foi possível graças à acirrada competição entre as empresas. Esta alta tecnologia nos meios de comunicação encurtou as distancias entre as pessoas,tronando-as mais proximas e o mundo ficou do tamanho de um pentelho. Poranto, após essa longa explanação, chega-se à conclusão de que a o terceiro verso da música está correto. Realmente eu, tu, ele, nós , vós, eles, somos do mundo inteiro.
Eu sou do carnaval? Bem. Eu já fui ao carnaval e nem sabia oque era. Estava eu lá com meus 2 ou 3 anos, mamando a minha mamadeira de boa, assistindo um desenho esperto do Pepe Legal, quando de repente minha super mamãe me pega no colo e faaz aquela cara. Aquela cara. Aquela que eu aprendi a temer. A cara que todos os adultos fazem quando acham que estão agradando uma criança, mas na verdade só estão provando o quanto burros, imbecis e ignorantes são. Aquela cara de " Gu gu da da" (quando vc chama rafael, falarem gugu dada nao quer dizer nada, mas quando vc chama GUstavo, pega mal né) Em seguida ela tira minha cuequinha a qual eu nem tinha estreado direito com minha borrifada matinal e troca por uma fantasia do He man...um colete Jeans, com uma estrela vermelha no peito e uma sunga vermelha. Eu olhava aquilo e pensava "Que merda de fatnasia é essa? Sou um cavaleiro Cruzado Gay?"
Porém minhas reclamações quanto à fantasia foram confundidas com fome e em seguida com cocô na fralda. Não obtive sucesso.
Lá estava eu indo para o carnaval.
E que maravilha. Pessoas suadas pulando sem saber por que. Pais bebados brigando com mães alteradas porque tinham esquecido como era uma bunda de verdade e ficaram muito tempo olhando para as ancas da diabinha que pasosu rebolando ao lado o mais novo sucesso de Beto barbosa ( decada de 80 minha gente). E eu lá, pegando confete do chão e enfiando na boca.
E assim foi, de ano em ano´. Crecendo assim.
Eu sou do carnaval? Bem, se eu sou filho da minha mãe, e todos somos, e praticamente, tods as mãesmesmo as que não gostam de carnaval, levam seus pimpolhos paraparticiparem da " alegria do povo" por mero peso na consciencia...sim , eu sou do carnaval.
Então...perdão Deus, mas oque tem de errado comigo?
Eu sou brasileiro, eu sou do litoral, eu sou do mundo inteiro, eu sou do carnaval.
Mas porque raios eu odeio essa merda de musicas, essas micaretas que ficam por 24 horas tocando a mesma musica a mesma letra que fala sobre a mesma coisa ( Assunto de musica de axé : movimento glúteo...no more, no less).
Eu, em minha humilde opiniao e minuscula sabedoria, desconfio que existam assuntos mais importantes a serem debatidos no mundo moderno.
Porém, não acredito( e nem espero) que um dia eu verei um bloco de axé cantando um refrão sobre a crise do governo, ou cantando " Sou Governo...to roubando....absolveram...quro mais oque...".
Mas nao faria mal nenhumum pouco mais de espaço pra quem nota essas coisas.
Pelo menos o numero de alienados nessa pais diminuiria
Aí sim eu cantaria com orgulho: Porque eu sou brasileirooo....
Por enquanto eu prefiro ser só o Gustavo
Thursday, April 20, 2006
Friday, April 07, 2006
estórias
Existem muits estórias a serem contadas po aí.
Todas elas merecem um par de ouvidos atentos pois, por mais semelhanças que tenham, uma estória nunca será igual a outra. Cada uma carrega um DNA, uma impressão digital, ou uma impressão que deixou no coração da pessoa que a conta, que a ouviu, que a viveu, plagiou, copiou, desacreditou, etc.
E elas não precisam ser fantásticas, envolver lutas ao redor da galáxia, ameaças de destruição de planetas, jornadas pela salvação de toda a humanidade.
As melhores estórias são as pequenas. Aquelas que podem ser resumidas numa única frase. Aquelas que acontecem num período de tempo pequeno, num espaço pequeno. Dois minutos num quarto. Duas pessoas. Pronto. Já pode-se tirar uma boa estória daí.
Pode ser um caso de amor, uma traição, um assassinato, uma piada, uma descoberta, um milagre, qualquer coisa.
E na verdade, as pessoas são meros penduricalhos. Pode-se escrever uma estória sobre um guarda chuva, uma saboneteira, uma metralhadora, um pneu, uma cidade.
Ontem, no caminho que, graças a Deus, eu faço todo dia da faculdade pra casa, eu vi, apoiada com a mão direita num poste, uma senhora, bem idosa, com um vestido vermelho de flores brancas, daqueles bem típicos de avós do interior, chorando copiosamente. A mão esquerda, confusa, não sabia se tapava o rosto ou limpava as lágrimas, que vinham em profusão numa quantidade grande demais para aquela pobre velhinha conseguir esconde-las.
Eu passei por ela.
Parei.
Olhei para trás. Pessoas iam e vinham e nem notavam a velha mulher e seu desfile de lágrimas, dando a impressão de que a mulher fosse um apêndice do poste. Um objeto que, se notado, era mal visto, um sensação de "não quero ver a tristeza, a miséria; se não quero ver, não vejo; se não vejo não existe".
Mas ela existiu demais para mim naquele momento. Voltei, disse oi e perguntei se poderia fazer alguma coisa. Ela não disse nada, não sei se porque não quis ou porque não conseguia dizer nada.
Insisti se não poderia fazer algo para ajudá-la. Ela disse "ô meu filho...obrigada...mas não...pode ir por favor". Nessa hora chegou um rapaz, chamando ela de vó. Devia ser pouco mais velho que eu. Agradeceu minha preocupação e a levou embora.
Eu fiquei ali. Tentando entender tudo aquilo. E o mundo continuava indo e vindo. Girando, subindo, descendo, dobrando a esquina, comprando sapato, debitando do saldo, abrindo uma conta, assaltando uma casa, casando, desquitando. E eu continuei ali enquanto o mundo ignorava todo o resto.
Aquela emoção dela, passou para mim. Fiquei preocupado com ela. Pensei: como, depois de ver uma mulher chorando de uma forma tão sentida e sincera daquele jeito, eu posso ignorar esse fato, fingir que nada aconteceu ?
A primeira imagem dela foi a que mais me chocou. E com certeza eu percebi que tinha uma estória ali a ser contada. Uma estória de muita emoção, dor e sem final feliz, pois, até o último capítulo, para mim, foi o neto recolhendo sua avó ainda em prantos. Porque ela chorava? Por que ela estava ali? Se fosse um filme, ela seria "mocinha" ou "vilã" ?
Ninguem sabe nada sobre ninguem. A minha estoria nem eu conheço direito, oque dizer então as outras pessoas. Ironicamente fiquei com a sensação de que a solidão é o sentimento coletivo,que nos une. Na solidão não estamos sozinhos. Na alegria talvez sejamos poucos.
Outra coisa que me impressionou foi o fato de ela estar apoiada no poste.
Na verdade ela estava debruçada no poste, que a segurava. Aquele poste sem braços era seu ombro amigo.
Fiquei pensando, quantas estórias podem ser tiradas desse poste.
Uma senhora em prantos o usou como apoio. Antes, talvez, um amor a primeira vista pode ter começado, um criminoso pode ter nesse poste trombado quando fugia da polícia, um carro nele pode ter batido, durante sua instalação o transito de pedestres pela calçada pode ter sido desviado, e assim duas pessoas que não se conheceriam, finalmente, se conheceram.
Há muitas estórias a serem contadas.
Todas merecem ouvidos para escutá-las, mãos para escreve-las e imaginação para inventá-las.
É isso que eu quero começar a fazer agora.