Wednesday, December 21, 2005

Soneto de Consolação

Não há de ser nada tão sério
Essa dor num peito cansado.
No sofrer não há mais mistério
Para alguém que já tenha amado.

Nem há, em nenhuma farmácia,
Quem prescreva bendita receita..
Pra curar desamor, com eficácia,
Recupere a esperança desfeita.

A vida não é hoje, nem será amanhã.
Como o amor, é infinita: ignora o tempo.
Para os apaixonados, a vida é um talismã

E contamina de alegria todo sentimento.
Não há de ser nada tão alarmante
Como o adeus de seres amantes.


(Trilha sonora : o ventilador do meu quarto, a cadeira rangendo e meu estomago roncando as 3:49 da manha de 22 de dezembro de 2005, Guarujá, São Paulo, Brasil, América do Sul, Terra, Via Láctea, Quadrante Z64YK,)

Wednesday, December 14, 2005

"Don´t Run."

Tenho conversado muito com o Destino.
Ele é meu amigo, mas nunca me diz nada.
Ontem dividimos a renovação da fé
Ao molharmos nossos pés nas águas do mar.
E depois, entre uma lembrança que mergulhava,
E um pressentimento que tentava reconhecer ao longe,
Caminhamos, lado a lado, sobre as areias da praia.
Eu lhe perguntava : - Quando?
Ele respondia : - Quando souberes;
Insistia: - Amigo, diz me quando.Diz-me como. Diz-me quem.
A resposta: - Olha teu passado. Lá está o teu futuro.
As areias da praia do tempo fluíam entre nossos pés
Enquanto encerrava meu interrogatório.
Olhava para o chão. Éramos dois, com só uma sombra.
Um acomodamento das ansiedades se fazia sentir
Por caminharmos juntos na mesma direção
Embora seus pés fossem mais rápidos que os meus
Estranhamente continuávamos lado a lado.
Suas pegadas surgiam na minha frente
E, mesmo que desviasse, delas moldava meus passos.
Chegamos a ponta da praia, nas pedras,
De onde é alto e vê-se tudo o que ficou pra trás.
Subi a primeira pedra e estendi-lhe a mão.
Me lançou um olhar irônico e um riso idêntico
Ao de um adulto que encontra a ingenuidade
Presente nos atos instintivos de uma criança.
Era ele que devia ir na frente. Não eu.
Parei e observei-o tentar subir a pedra.
O fiz com tamanha facilidade que não entendia
Porque a demora de meu amigo.
Estiquei a mão novamente.
O olhar irônico já tinha um pingo de impaciência.
Ele demorava a acompanhar-me.
Decidi que, sendo ele quem era,
Saberia onde me encontrar.
Segui meu caminho sem olhar para trás.
Já não o via nem ouvia, mas para a minha sorte
Desejava que estivesse bem.
Perdi o contato com ele.
Senti-me mal.
Uma tontura me ataca quando atinjo a rocha mais alta.
Labirintite. Tontura. O leste vira norte, e se confunde com o sul
Que já não aponta mais para onde eu costumava sonhar.
Em todas as direções já não haviam caminhos.
E nem sinal de meu amigo.
A tontura piora.
Desequilíbrio.
Escorrego.
Caio no mar.
Não há luta.
Fecho os olhos.
A maré fica mais forte.
Não há em cima ou embaixo.
Tudo parece girar enquanto a água vira meu mundo.
Vejo tudo de olhos fechado.
Tudo gira...gira...gira...
Olhos fechados se fecham.
Estou no que acho ser o fundo
Quando uma mão me puxa
A mão de meu amigo.
Que tudo sabia, mas nada me disse:
A minha mão. A mão de meu amigo.
Ele diz:com tom de voz que só eu sei fazer – Já viu carroça puxar o cavalo?
Não tenho forças pra responder.
- É isso que acontece se tentar ir na minha frente rapaz. Desacelera.
Desce de toda essa ansiedade em que você corre montado.
Eu ando sempre a tua frente, andando do teu lado. Vê se não te esquece disso.
É. Eu tenho conversado muito com meu destino.
E ele tem me contado cada coisa!!!!