As árvores do meu bosque
No meu bosque só existem árvores de solidão,
que já nem crescem tamanha a desilusão.
Amam sem porque, amam sem questão.
Não pedem provas , não provam nada,
Existirem como são , já é o testemunho de seus corações.
Vivem na esperança, essa reticência da vida.
Amam o Outono, cruel e insensível amante.
De suas vaidades, tem prazer em despí-las.
Jura amor eterno. Calor infindo.
Falso desde que o mundo existe,
e bom amante, mente, e as faz feliz,
ao acordá-las na manha, com um sonho de
mentiras verdadeiras o bastante, pra uma vida
se acabar.
Embreagadas de paixão, minhas árvores se submetem
a ver secos ao chão, morrerem seus sonhos,
por seu amor venenoso,
e , sem eles, não percebem a mudança do vento.
Os pássaros , em outra direção, vão agora,
perderam seu ninho, na cegueira do coração que
atingiu o caule das minhas árvores.
Magoados e traidos, se vingam, não avisam a elas,
as mudanças no tempo.
Daquele amor morno, que prometia o calor intenso,
agora sobrou o frio seco da solidão,
a reduzir minhas árvores a escombros de natureza morta.
Mais uma vez o Outono se foi.
Agora, à noite ao bosque, de um olhar malicioso,
minhas árvores estão sujeitas a humilhação.
Nuas, desprotegidas,envergonhadas, caidas,
mais uma vez.
Do auge de sua tristeza,
assistem , passívas, seus sonhos, secos,
serem não mais seus.
São do vento, que os espalha sem critério,
entre lobos , ovelhas, e outras árvores,
do meu, e de outros bosques.
Lágrimas de seiva escorrem
de sua madeira abandonada.
Mas para bem ou mal,
a esperança nunca morreu em minhas árvores.
De perdão é feito o solo desse meu bosque tão sofrido.
Só do perdão é que pode surgir a certeza de que
oque virá será melhor.
Leva tempo. O frio vai.
Os sonhos voltaram.
Minhas árvores , se enfeitam de flores
para esperar seu amor.
Amam sem porque, amam sem questão.
Não pedem desculpas, não pedem nada.
Amam o Outono ,
logo após serem abandonadas pelo verão.